Algumas vezes passamos por situações que são verdadeiras epifanias.
Esses momentos podem ser tão poderosos que levamos anos até conseguir ver através deles e transcender até o próximo passo, ou seja, introjectar, compreender e evoluir.
Muitas vezes é dessa forma que tratamos a configuração de equipamento com a qual mergulhamos.
Começamos mergulhar de uma determinada maneira e nos acostumamos com ela ou ela resolve um problema específico ou então investimos um certa quantidade de dinheiro e tempo que passamos a tratar aquela configuração como se fosse a única que funcionasse e pior, tentamos usá-la em qualquer situação mesmo que não seja a melhor solução, ou às vezes nem perto disso.
Para quem não sabe sidemount é uma configuração de equipamento onde o cilindro(s) ficam montados ao lado do corpo do mergulhador ao invés da técnica mais tradicional de colocar o cilindro(s) montados nas costas - backmount.
Os primeiros registros da utilização do sidemount foi na espeleologia no Reino Unido ainda na década de 60, mais tarde foi utilizada no espeleo mergulho da Flórida e da Riviera Maia quando se precisava expandir a exploração das cavernas em passagens que não permitiam a passagem de mergulhadores usando os cilindros às costas.
Na última década vimos uma explosão no número de mergulhadores usando o sidemount nos mais diversos ambientes e atividades. Em mergulhos no mar, represas, rios, cavernas e lagos. Em mergulhos recreacionais, descompressivos, com múltiplos cilindros e/ou usando misturas gasosas. Mergulhos a partir de barcos, de praia ou costa. Mergulhadores usando o sidemount com circuito aberto e fechado.
Quando alguém lê textos desse tipo, e existem montes deles na internet, revistas ou manuais de cursos, logo começa a imaginar que uma configuração tão versátil seja a solução para todos seus problemas.
O que esquecemos, é que tudo isso já se fazia com a configuração backmount e com exceção de algumas pouquíssimas situações um determinado mergulho pode ser realizado apenas com uma configuração específica em detrimento da outra.
O que acontece muito mais frequente é que um determinado mergulho pode ser realizados de maneira mais confortável ou segura com uma configuração mas não aplicamos a melhor por não conhecermos os pontos fortes e fracos de cada uma delas, por não conhecer a característica de determinado ponto de mergulho, às vezes, por estarmos focados no treinamento e aprimoramento de uma determinada técnica ou configuração ou ainda por não percebemos que existe mais de uma maneira realizar esse mergulho.
Sugiro antes de continuar nesse texto a voltar ao quarto parágrafo e tentar não se identificar com os motivos lá descritos que o levam ou já lhe levaram no passado a mergulhar com determinado equipamento.
Então quais são as vantagens de cada uma das configurações?
Sidemount
Redundância total dos cilindros e reguladores
Acesso visual às torneiras, reguladores, conexões, etc
Centro de gravidade dos cilindros próximo ao centro de flutuação do mergulhador, geralmente oferece ótimo trim e flutuabilidade.
Curva de aprendizado mais rápida.
Possibilidade de remover os cilindros durante o mergulho possibilitando passar em restrições que de outra maneira não seria possível ou seguro. Atenção ao fato de que para realizar essa manobra de forma segura e conveniente, cilindros muito negativos não são a melhor opção.
Facilidade de equipagem em águas calmas, ajudando mergulhadores que tem dificuldades em transportar peso
Atenção deve ser dada a configuração de lastro, já que os cilindros podem ser removidos durante o mergulho.
Backmount
Cilindros de aço de alta capacidade podem ser usados de forma conveniente e segura
Procedimento de compartilhamento de ar mais rápido e simples em equipes mistas ou puramente backmount
Configuração do arreio e asa mais simples
Gestão de gás mais simples
Equipagem fora da água mais simples e rápida facilitando entrar e sair da água em situações de mar com ondas e correnteza
Como regra geral, ao se usar cilindros mais pesados, pode-se reduzir a quantidade de lastro que levamos no mergulho.
Fato é, toda vez que estamos mergulhado, nos encontramos num mundo alienígena, um universo que não é o nosso e onde em última análise, não poderíamos estar a não ser brevemente sem um grande carga de equipamentos e técnicas.
Esteja mergulhado muito mais fundo que os limites recreativos, quilômetros dentro de uma caverna ou num mergulho de águas abertas raso num recife colorido apenas para relaxar coisas pode e dão errado.
Muitas vezes isso acontece sem aviso, então porque não mergulhar com o equipamento mais adequado para uma determinada situação?
Também é verdade que em muitas situações a melhor configuração não existe, mas uma análise de risco levando em consideração as especificidades deste mergulho, as condições ambientais, a equipe o objetivo do mergulho deve ser feito para determinar se devemos mergulhar com uma configuração, com a outra ou tanto faz.
Sobre o Autor Carlos Momoli
Engenheiro de Formação e Mergulhador desde 1998.
Mergulhador Recreacional, Técnico e de Caverna.
Trabalha com mergulho desde 2009.
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